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Foto do escritorValeska Petek

"Você não foi aprovado"​: o que fazer com o feedback do processo seletivo


Sabe aquela frase motivacional que diz "caia 7 vezes, mas levante 8", simbolizando nossa persistência? Na época em que eu estava começando minha busca por um novo emprego, ela até ajudava, mas depois de 152849 feedbacks negativos me informando que eu não havia sido selecionada (número fictício, porque perdi as contas), a frase já não tinha mais efeito nenhum. Eu me sentia frustrada, questionando meu valor como profissional, e muito perdida: não tinha ideia do que estava fazendo de errado.


Isso quando eu recebia um feedback (pois de muitos processos seletivos eu não tive nenhum retorno). Como candidata, me sentia indignada pensando "que falta de consideração, poderiam pelo menos ter enviado aquela mensagem automática pra eu não ficar no vácuo". Quando recebia a tal mensagem no meu e-mail, o pensamento mudava para "com certeza nem olharam o meu currículo direito, apenas me enviaram um texto automático". E se participava da entrevista, ao receber uma negativa com um texto mais "escrito por humanos", ainda sentia muita falta de um feedback mais completo, me mostrando onde eu poderia melhorar. Afinal, me dizer apenas "selecionamos candidatos da nossa região" ou "buscamos alguém com mais experiência" não me ajudava muito a entender os motivos das minhas reprovações - até porque para cada vaga era um motivo diferente.


Anos depois, quando atuei como Recrutadora, entendi a dificuldade de fornecer feedbacks que contribuam para o desenvolvimento das pessoas:


A verdade é que o Recrutador trabalha pra empresa, não pros candidatos. Isso não significa que ele não tenha empatia pela sua jornada de vida e profissional, mas que ele nem sempre tem disponibilidade de tempo pra atuar como seu Mentor, te mostrando o que melhorar. Por isso, cabe a você - sozinho ou com ajuda - avaliar sua estratégia de carreira.

Se você tiver a oportunidade (e a sorte) de participar de um processo seletivo cujo Recrutador te traga um feedback mais específico, some isso à sua análise. Mas lembre-se de que o feedback que você receber estará relacionado a uma avaliação de você (como candidato) pensando naquela vaga em específico. O Recrutador não conhece tudo sobre você e seus sonhos profissionais, por isso é importante não achar que só porque ele te sugeriu um caminho, automaticamente é o que você deve seguir.


"MAS, VALESKA, ENTÃO AINDA QUE EU TENHA UM FEEDBACK, ISSO NÃO SIGNIFICA QUE EU TENHA UM FEEDBACK ÚTIL?"


Exatamente. Mas calma, vamos por partes. Vou resgatar o conceito de CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes) que eu trouxe no meu primeiro artigo (Como funciona um processo seletivo: o que todo candidato precisa saber). Vem comigo:


1) ESSA VAGA COMBINA COM O QUE VOCÊ TEM DE CONHECIMENTO?


Vamos imaginar o contexto de um profissional que é formado em Direito. Essa graduação oferece um leque amplo de atuação, possibilitando assumir cargos relacionados a:


  • Direito do Consumidor (muito relevante para uma empresa que precisa entender seus direitos e deveres com os seus clientes);

  • Direitos Autorais e Propriedade Intelectual (fundamental para empresas que querem proteger novos produtos contra a pirataria, por exemplo);

  • Direito do Trabalho (área que regula as relações entre empresa e funcionários);

  • ... e muito mais.


Se o nosso profissional de se candidata a uma vaga de Analista Jurídico que tem como requisito uma graduação em Direito, ele teoricamente tem muitas chances de conseguir essa oportunidade. No entanto, imagine o seguinte cenário:


  • Candidato 1: graduado em Direito;

  • Candidato 2: graduado em Direito + cursos extras de curta duração relacionados ao Direito do Trabalho;

  • Candidato 3: graduado em Direito + cursando pós-graduação em Direito do Consumidor.


Quem tem mais chances? Depende da vaga. Se a empresa precisa de um Analista Jurídico cujas atividades serão relacionadas ao departamento de Recursos Humanos, que envolve muito do Direito do Trabalho, o candidato mais atrativo provavelmente seria o 2 (ainda que o candidato 3 esteja cursando uma pós-graduação - que é em uma área menos relacionada ao que a vaga precisa). Já se a vaga fosse voltada a atividades relacionadas ao departamento de Marketing, onde seria muito importante o conhecimento em Direito do Consumidor, o candidato 3 teria seu diferencial. Ou seja, mesmo que o requisito oficial de conhecimento (como o curso de graduação) seja o mesmo para várias vagas, você pode ser mais atrativo para algumas e menos atrativo para outras.


2) ESSA VAGA SE BENEFICIA DAS HABILIDADES QUE A SUA EXPERIÊNCIA TE TROUXE?


Se você busca oportunidades em uma área que já tem experiência, fica mais fácil mostrar que você combina com o perfil da vaga. E aqui, todo tipo de experiência vale, por mais simples que seja:


  • Estágios (remunerados ou não);

  • Trabalhos voluntários (em ONGs ou projetos extracurriculares da faculdade);

  • Prestações de serviços (como autônomo ou empreendedor);

  • Cargos ocupados anteriormente em outras empresas (inclusive os que, por algum motivo, não foram legalmente registrados em carteira de trabalho - a vivência que você teve naquele cargo faz parte dos seus aprendizados, portanto, vale como experiência profissional).


Reunindo esse histórico, compare com o que a vaga desejada (aquela que você recebeu o feedback negativo) tinha como requisitos. Havia algo ali que você ainda não atendia (ou atendia parcialmente)? No exemplo do nosso profissional graduado em Direito, se a vaga de Analista Jurídico pedisse algum tipo de vivência em casos relacionados ao Direito do Trabalho (e ele nunca teve nenhum contato com a área), esse poderia ser um fator de desempate entre ele e outro candidato que, em experiências anteriores, teve esse contato.


3) QUAIS ATITUDES (COMPORTAMENTOS) SÃO IMPORTANTES PARA ESSA VAGA? VOCÊ TEM AS SOFT SKILLS NECESSÁRIAS?


Ao ler a descrição de uma vaga nem sempre é fácil perceber nas entrelinhas quais são as soft skills (competências comportamentais) desejadas pela empresa. Mesmo assim, vamos tentar imaginar dois diferentes perfis de vagas para profissionais com a mesma formação do nosso exemplo (Direito):


  • Um profissional que atuará na revisão de contratos precisa ter uma boa atenção aos detalhes, além de uma comunicação escrita que evite duplas interpretações;

  • Um profissional que participará de reuniões entre representantes de uma empresa e representantes do Sindicato do segmento precisa ter uma boa habilidade de negociação (e até mediação de conflitos).


Através do que o Recrutador conseguiu conhecer de você - por escrito (no currículo), verbalmente (na entrevista) e/ou até através de algum teste de perfil - ele irá avaliar quem (dentre os candidatos disponíveis) mais se aproxima do perfil daquela vaga considerando essas competências comportamentais. Para uma vaga da qual você recebeu o feedback negativo, é possível que você tivesse os conhecimentos técnicos necessários e até uma experiência relevante - mas as soft skills que você demonstrou não combinam tanto com o que é buscado para aquela vaga - seriam ideais para outro tipo de oportunidade.


MAS LEMBRE-SE: NEM TUDO É SOBRE VOCÊ


Ainda que você atenda todos os requisitos do CHA - tendo os Conhecimentos, as Habilidades e as Atitudes que a vaga precisa - você não tem controle sobre diversos outros aspectos que influenciam o resultado de um processo seletivo. Ao receber um feedback negativo, não sabemos se haviam outros candidatos que eram ainda mais qualificados do que nós, ou se a empresa deu preferência para candidatos que residiam no mesmo estado. Também não sabemos se a vaga foi congelada ou cancelada (nem sempre os RHs compartilham esses detalhes)...


Um "não" não invalida nosso valor como profissionais. Por mais dolorido e frustrante que seja, o feedback negativo só diz que você não foi selecionado para aquela vaga em específico, para aquela empresa em específico, naquele momento em específico.

Para quem está trabalhando e se sente estagnado, a negativa de um processo significa que a desejada promoção (ou mudança de empresa) levará mais um tempinho. Enquanto isso, para quem está desempregado, geralmente há uma pressão ainda maior (inclusive financeira), e a negativa afeta ainda mais a autoestima. Em ambos os casos, quando se sentir perdido, lembre-se dos seus objetivos. Se você sabe o que quer, continue tentando. Se você não tem clareza de qual vaga combina com você, descubra aqui (3 passos para descobrir qual é a sua "vaga dos sonhos" (e como alcançá-la) e persista. Por experiência própria posso afirmar que, como diz o conselho da frase "caia 7 vezes, mas levante 8", persistir vai valer a pena! :)


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Artigo publicado originalmente aqui.

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